26.7.08

Vivendo e aprendendo

A transição da infância para a adolescência é bem complexa, pois a gente se depara com os horrores de ser uma pessoa grande. Começamos a refletir mais sobre a relação entre causa e consequência, apesar de não estarmos nem aí para as conclusões que tiramos disso. Mas é fato que raciocinamos mais, até mesmo para tentar entender as mudanças que acontecem no nosso corpo e mente. Hormônios em ebulição e estratégias para a construção de uma personalidade perfeita. Dentre todos os aborrecentes, essas são as dúvidas que mais ocupam suas cabeçinhas ocas durante o casulo, e não poderia ser diferente comigo. Naquela época eu me achava o cocô da mosca da bosta do cavalo do bandido, então peguei esse gancho e fui tentar entender como funcionava a cabeça de um ser humano, para poder encontrar formas de atraí-los sem que notassem a áurea demoníaca que pairava lá no fundo dos meus meus olhos. O que o Sete Peles tinha feito de tão ruim em mim? Essa parte a gente pula. Vamos direto aos resultados desse estudo humanístico. Abaixo segue a análise sobre as relações interpessoais que fiz sobre nós, terráqueos.
Reflexão nº 1: os seres humanos são muito, muito egocêntricos, então quanto mais alimentarmos o seu ego, mais eles nos verão como fonte de prazer e assim ficarão dependente de nós.
Reflexão nº 2: os seres humanos são muito, muito carentes. Simplesmente entram em clímax quando são ouvidos por horas e horas. Ah! e se você fizer perguntas como: "sééééério?" "juuraaa?" eles atingem o orgasmo.
Reflexão nº 3: os seres humanos são muito, muito seletivos, selecionando só o que lhes interessa. Então nada de falar do céu pra quem gosta do inferno. Tente conversar sobre assuntos que sejam comuns a eles.
Reflexão nº 4: os seres humanos são muito, muito prepotentes. Se eles perceberem que não tem alguma coisa na palma da sua mão, vão atrás até as últimas consequências. Uma ótima oportunidade pra fazermos cu doce. Cu doce! Eis o maior segredo de todas as relações duradouras.
Resumindo, eu tinha que falar menos e escutar mais; elogiar as pessoas, fazendo-as acreditar que são o calcanhar de Aquiles; comentar que a música que estão ouvindo é Beethoven, e arquitetar uma situação onde eu alimente um desejo sórdido, mas finjo que nada aconteceu. Perfeito. Com isso eu seria a pessoa mais doce, meiga e fofa do mundo.
Mas se até algumas teorias de Freud caíram por terra, que dirá as minhas. Aconteceu um fato que fez todo esse trabalho descer pela descarga. Uma vez conheci uma pessoa que gostei muito, então tentei fazer a lição de casa direitinho, aplicando cada uma dessas quatro regras com estimável precisão. Elogiei, ouvi, falei sobre História e fiz cu doce. Entretanto, o resultado foi simplesmente inversamente proporcional ao que eu esperava. E quanto mais eu aplicava minha teoria, mais essa pessoa se distanciava de mim. Como diz uma música de Vercilo: "sem querer te perdi tentando te encontrar". No desespero total, decido focar mais ainda no tópico nº 3, onde eu teria "coisas em comum" para falar. Revirei de cabo a rabo o orkut dessa pessoa, procurando minuciosamente todos os gostos e peculiaridades. Daí fui atrás de conhecer afinco todas as suas mais singelas características. Eu sabia que podíamos roubar a solidão de alguém, mas até então eu não sonhava que a individualidade também poderia ser roubada. Essa pessoa me disse que eu tinha arrancado a dela, e que eu só iria entender se estivesse na sua pele.
Realmente não conseguia visualizar essa minha ação marginal. O interessante foi que falei isso pra mais algumas pessoas, que concordaram sem pestanejar com ela! Até que... uma pessoa começou a fazer isso comigo... então... pude entender...
Vocês tem noção do estrago positivo que isso causou na minha vida? Primeiro que eu tinha mudado uma perspectiva que estava enraizada em mim, ou seja, sou adepto à mudanças. Isso é muito bom no mundo globalizado de hoje. E Segundo, posso ser eu mesmo, sem usar artifícios mecânicos pra me comunicar com os outros. Que emoção! Ai eu confirmo a frase do MSN de Carol: "Você precisa mudar muito pra ser você mesmo".
Lição nº 1: elogie as pessoas por seus méritos e dê uma lição de moral quando elas estiverem errada.
Lição nº 2: ouça bastante, mas também se abra pra seus amigos, pois eles vão se sentir tão importantes na sua vida.
Lição nº 3: nunca tente copiar os outros; seja você mesmo. Somos diferentes e os opostos se atraem, lembra?
Lição nº 4: se doe =) partilhe a pessoa especial que está em você.

Um comentário:

Tiago Fagner disse...

Porra, foram brilhantes tuas reflexões sobre a presonalidade humana, concordo com tudo.Mas o que quer dizer tudo que tem depois? na continuação do texto...