21.7.09

Guilhotina

Por mim, eu deixaria meu cabelo crescer por mais seis iguais longos meses. Até lá, só iria aparando as pontas com uma tesoura de papel, ou uma gilette da Gilette. Eu nem ligo mesmo para rebeldia dessa criança. Até adoro ir à frente do espelho e assanhá-lo pra ficar parecido com um black power. Quem muito liga pra isso é toda minha família, que sempre fica dizendo que é uma desgraça um rapaz direito andar assim. Pois bem, fui ao cabeleireiro. Maquinei durante 1 semana a maneira que eu iria explicá-lo o jeito do meu corte - estilo Hitler - pois ele é um pouco feijão-com-arroz. Tive que adaptar para uma linguagem que ele estava acostumado a ter contato, já que seus clientes só fazem cortes normais. Haha! Foi super engraçada a cara que ele fez quando eu tentei explicar. Enfim. Alguns minutos antes de cortar, enquanto o esperava terminar de fazer os serviços nos moçoilos que chegaram antes de mim, eu peguei uma revista SUPER INTERESSANTE que estava jogada por perto, e comecei a folhear. Era uma edição de 2003 e a matéria da capa era sobre suicídio. Legal. Abri a revista e comentei comigo mesmo quanto a diagramação da SUPER era ruim naquela época - ainda bem que mudaram o editor chefe. Li umas pequenas matérias e cheguei nas páginas referentes à reportagem da capa. A primeira coisa que me chamou a atenção foi uma frase que estava em destaque, escrita mais ou menos assim: "as pessoas se suicídam porque suas vidas perdem sentido, pois já não têm ideais, sonhos e herois". Bingo, entendi aquela música de Pitty: "eu fui matando meus herois aos poucos, como se não tivesse nem uma lição pra aprender". Herois. Eu nunca tinha parado pra pensar qual a relação que nós temos com os nossos herois. Vi que tenho mandado todos os meus à guilhotina. Tasc! Tasc! Tasc! Como se eu num tivesse mais nada pra aprender. Tasc!
Meu estado atual é de desencanto. Até o amor, que eu tanto orava, perdeu a importância. Ainda amo? Amo, e como amo. Mas realmente perdeu a graça. Ah! que chata é a forma que o sistema todo funciona. Ah! que chata é a relação que temos aqui com todas as pessoas. Ah! que chato é a injustiça. Cansei e me desencantei. Nem sei qual a força que está me movendo.
Prova disso é que experimentei cigarro. É ótimo! principalmente Marlboro ICE (parece que estou chupando pastilha). Se eu começar a fumar na veras, só vou usar esse. E sou um artista fumando: controlo perfeitamente a fumaça que sai pelo nariz; dou batidinhas super elegantes pra bituca cair, etc... Mas e as consequências da fumo? Estou lidando com elas como uma forma de controlar minha morte, já que ficará mais claro do que eu posso morrer. E eu concordo que é uma forma de suicídio, que pessoas covardes, como eu, lançam mão. Mas fato: eu sou covarde, mas nem estou animado para aprender a ter coragem com meus herois. Que, por sinal, agora estão decaptados.
a p.s: por favor, não digam à mainha que eu experimentei cigarro.

4 comentários:

Tiago Fagner disse...

O blog mudou, mas teu jeito de escrever continua sendo muito interessante.

Turandot disse...

Não sei se isso chega a ser covardia. Talvez seja apenas um nível de liberdade tal, que as pessoas não compreendem. Tem uma relação direta com auto-controle. Acho que é isso! Auto-controle... sentir-se Deus, seu próprio Deus.
Ah, FATO, marlboro ice é o melhor!

Manuela Moraes disse...

Achei ótimo o texto, apesar de ser contra umas partes do conteúdo que vc já sabe/imagina quais são.

Começar a fumar para ter uma razão para a morte é, realmente, uma ideia que pode funcionar. A questão é: por quê morrer? Eu não acredito que se deva desistir da vida em situação alguma. Nada nessa vida vale o valor da própria vida. E só quem tem o controle dela é Deus, e não nós. Se foi Ele quem a deu, nada mais justo que Ele ter o poder de tirá-la, né?

Espero de verdade que vc não comece a fumar "de veras". E fique tranquilo que eu ainda não contatei titia pra falar sobre isso.

Beijo, amore :*

will disse...

ai!
medo de manu. sério.