15.9.09

Equalize

Por uma questão de conforto, eu sempre sento na última fileira de cadeiras da sala de aula. Alguns me chamam de fóbico social, mas eu nem ligo. O faço estrategicamente para o bem do meu pescoço, pois assim posso encostar minha cabeça para cochilar durante a exibição de filmes épicos, slides chatos e aulas monótonas de leitura. Pior é você deitar no braço da carteira, dando pinta pro teacher de que a aula está insuportável. Discrição, né?
Durante a última aula de artes, quando o professor estava passando uns slides sonolentos com pinturas de Goya, lá estava eu nessa posição. As divisórias da sala em que eu estava eram de compensado. Se eu batesse a cabeça nela, alguém que estivesse do outro lado igualmente encostado sentiria. Bati uma vez. Uma pessoa que estava lá na outra sala revidou e também bateu. Bati novamente. A pessoa revidou mais uma vez. E ficamos nesse joguinho por quase 10 minutos. O fato é que eu simplesmente me apaixonei por quem quer que estivesse naquela outra sala dançando comigo! Aquilo era uma dança, e estávamos arrasando no salão. Éramos o rei e a rainha do baile e patinávamos magestosamente pela pista ao som de uma mesma valsa. De um mesmo acorde e uma mesma melodia. Se existisse uma fresta no compensado e eu pudesse ver quem era meu par, acho que seria amor à primeira vista.
Eu senti que o amor é isso. É uma dança. É você e seu parceiro conseguirem ler a mesma partitura. Acontece quando estão equalizados numa mesma nota, ouvindo uma música de chico sincronicamente. Tudo isso regado à uma voz que vem de dentro e grita; vomita poética musical. Mas por enquanto eu não estou animado para requebrar o esqueleto. Somente ficarei aqui, vislumbrando as luzes refletidas no globo espelhado.

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